domingo, 7 de dezembro de 2008

Nem tanto a Deus, nem tanto ao Diabo


Hoje realizei um ritual que há tempos não fazia: Limpeza na estante. Tirar todos os livros, escolher quais eu posso enviar para doação e, de certa forma, matar um pouquinho as saudades daqueles que são de estimação é algo que me faz muito bem.

Remexendo entre os exemplares, encontrei um livro comprado na épocado meu curso de graduação, e pude lembrar o quanto foi interessante analisá-lo.
O livro Jornalismo Canalha: A Promíscua relação entre a Mídia e o Poder, de José Arbex Jr, traz diversos conceitos interessantes.

No quinto capítulo do livro, por exemplo, José Arbex disserta sobre a “renúncia” de Hugo Chávez e todo o papel que a mídia desempenhou no assunto. E só para não perder o costume, Arbex culpa a Casa Branca e os meios de comunicação pela má retratação dos fatos ocorridos na Venezuela.
Longe de querer defender a mídia e ainda mais longe de querer defender a Casa Branca, eu não posso deixar de ver com olhos menos maldosos o ocorrido. Arbex criou quase uma teoria da conspiração onde se planejava derrubar Hugo Chávez. Que o Estados Unidos conspirou para isso, não tenho a menor dúvida; mas colocar a imprensa nesse imbróglio me parece demasiado.

Houve, de fato, uma falha na cobertura da mídia. Houve troca de informações, leviandade e uma péssima colaboração dos jornalistas para que a verdade fosse dita. Mas como posso achar que dois dos mais sérios jornais possam entrar nisso? Não concebo a possibilidade de o Le Monde (França) e do El País (Espanha) terem se submetido a este papelzinho de manipular a opinião mundial contra o presidente venezuelano. Acho muito mais realista pensar que a imprensa foi manipulada e não que ela manipulou. Deve-se deixar de lado este preconceito com a mídia e parar de achar que a imprensa é o próprio Diabo.

Por outro lado, tem-se que deixar muito claro que Hugo Chávez não é, e está bem longe de ser, um cordeirinho, um pobre coitado que foi maltratado pelo EUA e pelos meios de comunicação. Quem lê o capítulo Golpe, Fracasso e o Fiasco da Mídia – quinto capítulo – pensa que Chávez é um enviado de Deus na terra. Nem tanto. Menos, bem menos.

De modo geral, o capítulo é uma boa aula de como não deve se fazer jornalismo e de como a imprensa pode mudar as informações a seu bel prazer. A questão que fica é, qual a razão da manipulação no episódio Venezuela, e pra mim está bem longe de uma conspiração com a Casa Branca.


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